Flávia Amaral
O bairro Leblon
O metro quadrado para imóveis mais caro não só do Rio de Janeiro, mas entre 16 municípios brasileiros pesquisados pelo índice FipZap, fica no bairro Leblon, na zona sul carioca.
Custa, em média, R$20.451,00 (em janeiro de 2013) valor quase 70% maior que o metro quadrado mais caro da cidade de São Paulo. Em São Paul, no bairro Vila Nova Conceição, cujo valor gira em torno de R$12.100,00.
O Leblon é um bairro onde cada vez mais o metro quadrado é valorizado. Devido à sua localização privilegiada no sinuoso recorte da orla do Rio, ficando num canto especial. Onde se beijam mar e montanha magistralmente. O francês Charles Le Bron, era um baleeiro dono de toda extensão deste canto da zona sul carioca que, nesta época, nem existia ainda.
O Rio de Janeiro de antigamente
A população urbana se concentrava no centro da cidade e os bairros residenciais abrangiam só até o bairro de Botafogo. Para chegar ao Leblon era necessário usar um bonde de tração animal até seu ponto final, no bairro da Gávea, e dali seguir em uma longa caminhada a pé.
O francês Le Bron vendeu suas terras para um abonado comerciante português, José Seixas Magalhães. Este tinha uma fábrica de malas no centro do Rio e cultivava camélias em sua chácara. Lá, ele também acolhia escravos fugidos. Seixas foi um abolicionista entusiasmado da história do Brasil. Criou o Quilombo Leblon com a ajuda de outros abolicionistas ilustres. Entre eles, José do Patrocínio e Rui Barbosa. Todos se arriscando por uma causa justa e digna de igualdade entre os homens.
As Camélias do Leblon
As camélias cultivadas no Leblon se tornaram símbolo do movimento abolicionista e se destacavam nos vestidos e chapéus das senhoras da corte, na lapela dos cavalheiros, nos ramalhetes que se presenteavam e também enfeitavam os jardins das casas, para identificar seus donos como simpatizantes à abolição da escravatura. Este símbolo vai muito além de sua beleza e perfume. As camélias representavam a vida florescente almejada pelos sofridos escravos. Sua fragilidade se identificava com a fragilidade dos escravos.
Tanto as camélias quanto os escravos foram trazidos para o Brasil, tirados de seu habitat natural. Ambos passaram por processos de adaptação severos para sobreviverem longe de casa. Eles, os escravos, vieram da África, sofreram terríveis atos de desumanidade. Elas, as camélias, vieram da Ásia, depois da Europa. Acostumadas a frios rígidos, precisaram do singelo cuidado dos escravos fugidos para se adequarem ao clima quente e úmido tropical. Deste jeito, com todo este apelo romântico das camélias, talvez seja até razoável pagar 20 mil reais pelo metro quadrado do Leblon. Como definiu Rui Barbosa sobre as camélias: “a mais mimosa das oferendas populares”.
NÃO SE ENCONTRAM MAIS CAMÉLIAS NO CARO BAIRRO DO LEBLON. NELE, O LUGAR MAIS POPULAR E ACESSÍVEL É A PRAIA.